“Filhos que não crescem?” – Como os estilos parentais podem impactar a maturidade e a autonomia dos filhos

É cada vez mais comum escutarmos relatos de jovens adultos que se sentem inseguros para sair da casa dos pais, iniciar uma carreira ou tomar decisões importantes sozinhos. Alguns expressam sentimentos de medo, inadequação e dependência emocional. Outros até desejam conquistar sua autonomia, mas parecem paralisados quando enfrentam as responsabilidades da vida adulta. O que estaria por trás desse fenômeno? Entre muitos fatores, um aspecto central chama a atenção: os estilos parentais e a forma como os pais conduzem a educação emocional dos filhos ao longo da vida.

O papel dos estilos parentais no desenvolvimento emocional

Os estilos parentais dizem respeito às atitudes, estratégias e padrões de comportamento que os pais adotam na criação dos filhos. Diana Baumrind, uma das principais pesquisadoras nesse campo, identificou quatro estilos principais:

  1. Autoritário – exige obediência rígida, com pouco espaço para diálogo ou expressão emocional.
  2. Permissivo – é indulgente, evita impor limites e tende a satisfazer os desejos dos filhos.
  3. Negligente – é marcado por falta de envolvimento e suporte emocional.
  4. Autoritativo (democrático) – combina firmeza com afeto, oferecendo estrutura e acolhimento.

A forma como os pais se posicionam influencia diretamente o desenvolvimento da autoestima, autonomia e segurança emocional dos filhos. Quando o equilíbrio entre proteção e liberdade é rompido, surgem dificuldades no processo de amadurecimento.

A superproteção e o medo da vida real

Pais superprotetores, geralmente bem-intencionados, querem evitar que seus filhos sofram. Eles antecipam problemas, resolvem conflitos por eles e não os expõem a frustrações. No entanto, ao evitar o desconforto, acabam impedindo que os filhos desenvolvam resiliência, tolerância à frustração e confiança em suas próprias capacidades.

Essa postura leva a filhos que crescem com medo de errar, receio de enfrentar desafios e uma sensação constante de que “não vão dar conta” sem o apoio dos pais. Tornam-se dependentes, emocional e até financeiramente, não por falta de desejo de autonomia, mas por falta de repertório interno para se sentirem preparados.

Pais permissivos e a ausência de limites

No outro extremo, o estilo permissivo também pode contribuir para o atraso na maturidade. A ausência de limites claros dificulta o desenvolvimento da autorregulação, responsabilidade e noção de consequências. Filhos que não são estimulados a fazer escolhas, arcar com suas decisões e lidar com frustrações podem crescer com uma percepção distorcida da realidade, esperando que o mundo funcione com a mesma flexibilidade e indulgência que encontraram em casa.

Impactos emocionais: insegurança, dependência e dificuldade de individuação

Quando os estilos parentais não promovem o desenvolvimento saudável da autonomia, os filhos podem internalizar crenças disfuncionais como:

  • “Não sou capaz sem meus pais”,
  • “O mundo é perigoso demais” ou
  • “Fracassar é inaceitável”.

Essas crenças impactam diretamente o processo de individuação, conceito importante na psicologia que se refere à construção de uma identidade própria, separada emocionalmente dos pais. Sem esse processo, é comum que os filhos carreguem culpa ao pensar em sair de casa, ou sintam que estarão traindo os pais ao buscar independência.

O papel da terapia: ressignificando experiências parentais

A psicoterapia, especialmente as abordagens cognitivas como a TCC, Terapia do Esquema e Terapia Focada nas Emoções, pode ajudar esses jovens adultos a:

  • Identificar padrões internalizados da infância;
  • Trabalhar crenças de incapacidade e insegurança;
  • Desenvolver recursos emocionais para enfrentar a vida adulta;
  • Estabelecer limites saudáveis com os pais, sem culpa.

O trabalho terapêutico também pode ser útil aos pais que desejam rever sua forma de educar, buscando um equilíbrio entre suporte e autonomia.

Conclusão

Os estilos parentais deixam marcas profundas. Embora não sejam os únicos fatores, têm papel decisivo na formação emocional dos filhos. Promover a maturidade é permitir que os filhos experimentem, errem, se frustrem e aprendam com isso — com apoio, sim, mas sem impedir que vivam sua própria trajetória. Afinal, o amor que prepara para o mundo é aquele que ensina a caminhar, e não aquele que carrega no colo para sempre.

Referências

  • Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2003). Schema Therapy: A Practitioner’s Guide. Guilford Press.
  • Beck, J. S. (2013). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Artmed.
  • Greenberg, L. S. (2011). Terapia Focada nas Emoções: Coaching emocional para casais. Artmed.

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27 comentários sobre ““Filhos que não crescem?” – Como os estilos parentais podem impactar a maturidade e a autonomia dos filhos

  1. Muito bom este artigo. Os pais tem papel fundamental na independência e autonomia dos filhos. Hoje com número menor de filhos os pais tendem a super proteger deixando -os dependentes.

      1. o detalhe é
        vagabundagem.
        os filhos de hoje podem
        fumar beber se encher de tatuagens desfrutar de mordomias ter regalias só não podem trabalhar
        quem precisa de terapia são os filhos e a terapia chama se trabalhar ou tomar um coro de laço pra criar vergonha na cara
        só isso
        quem gostou gostou
        quem não gostou que dane

    1. Sem dúvidas o desafio de preparar os filhos para a vida é o maior desafio que enfrentamos.
      Não nascemos preparados para viver, tão menos para sermos pais, temos que aprender na prática e ainda tocar todas as outras atividades de nossas vidas.
      Como pai errei muito, me cobrei muito. Aprendi com meus erros mas não posso assegurar que estou totalmente pronto, preciso sempre lembrar que estou em um processo de aprendizado contínuo.
      Para mim o mais importante é nunca desistir, assumir os erros, pedir desculpas e propor melhorar, como pais.

      Obrigado pelo artigo.

      Abraços.

  2. Muito real isso. Eu sou filha única e tive esse impacto na minha vida, era muito regrada.
    Só podia namorar depois dos 18, ter filho só se casada e casar depois de formada.
    Cresci com medo de dar desgosto pq meus pais são muito bons pra mim, então segui isso à risca e demorei a amadurecer.
    Comecei namorar aos 18 mesmo e separei pq meu pai mandou, já q meu namorado era pobre.
    Desisti da vida militar pq não queria separar dos meus pais, já q ficaria 4 anos em outro estado estudando.
    Terminei a faculdade particular com 21 e fui trabalhar aos 23 anos, depois de concluir a pós, era dependente das amizades q fiz no trabalho e mesmo sem carteira assinada e ganhando pouco, ficava, pra nao me separar das amizades do local. Levei isso até os 28 anos, quando montei meu próprio negócio. Voltei com meu ex q era o tal pobre, pq era o único q me respeitava na condição de virgem q era e me casei aos 29 anos. Com 31 tive nosso primeiro filho e aos 34 o segundo.
    Precisei parar de trabalhar…
    Hoje, com 40 anos venho tentando concurso, mas deveria ter feito isso antes, pois, com filhos se torna cansativo, o aprendizado mais limitado, as lembranças das matérias mais distantes e as oportunidades de emprego e vaga para mim, menores.
    Infelizmente não foi como deveria ser e eu sofro o impacto e ainda dependo da ajuda dos meus pais emocionalmente e financeiramente, já q pra nao parar 100% de trabalhar, meu pai comprou uma loja onde trabalho nela com outro ramo e ele se mete em tudo e aborrece a mim, a minha mae e meu esposo.

    Jamais darei a educação q eles me deram, sinto na pele o peso de ter sido dependente e deixado eles decidirem por mim.

  3. Eu fui sair de. casa, um pouco mais tarde, paguei a minha faculdade, casei tive um filho com o meu esposo, e claro preferimos comprar um apartamento e só vou para visitar os meus pais.
    Concerteza tinha que ser tudo certinho para os meus pais.
    Mas superei é consegui pois eu era a única filha mulher e os meus irmãos.

    1. Nunca tive esses conflitos internos, pois meus pais , não me deixaram bens materiais, mas me deram a maior riqueza, me ensinaram a ser homem pra lhe dá com as adversidades da vida!!

  4. A minha experiência já foi o contrário, minha mãe teve 10 filhos,é claro que tinha amor e cuidado pra todos em um certo momento, mas na maioria d tempo já quand estávamos na fase dos 10/11anos era cada um por si, cada um se virava como podiase quisesse algo,tinha que fazer,que conquistar…enfim,..eles nos criaram para o mundo, até que aos 12 perdi minha mãe e ais 17 meu pai .E hoje eu agradeço por eles terem nos criados assim,senão em toda essa situação de perda,eu não iria aguentar e sim,hoje me sinto uma pessia forte,preparada,e semore me deparei com frustração e nunca me deixei abater ,tudo isso pq meus pais me fiztam fortes.

  5. bom dia
    eu sempre queria ter os pais presente na infância a minha mãe faleceu , e na pre adolescência meu pai faleceu, falta fez sim o começo e bem ruim fica pulando de lar em lar de parentes,a solidão bate na porta,mas a partir de dos 18
    automáticamente você se transforma
    sempre procurando uma saída para tudo
    e ser dono da sua própria vida e gratificante.

  6. Ha anos tive uma educação bem diferente de uma irmã(caçula), comigo a rigidez, a estudez, o descaso comigo e as humilhações durante toda minha infância, adolescência, e até parte da minha fase adulta..qto a outra parte podia tudo e mais um pouco e eu sempre com a responsabilidade precoce tendo de cuidar dessa irmã da casa e aí de mim se ela caísse comigo apanhava…hoje minha mãe com 80anos recebendo em triplo tudo que ela deu e mais um pouco a essa irmã e a filhinha coitadinha que não poderia ser contrariada…a ingratidão e a antecipação do desencarne dela..não cuida da mãe negligência as medicações maus tratos…e eu como sempre que estou me lascando por causa da educação desgraçada para não ser pior..e a vontade que eu hoje tenho é chutar o balde e jogar no ventilador tudo que acontece a anos desde a velhice da minha mãe…deixando pra lá por causa de família e eu que estou doente, pressão alta, ansiedade passando raiva estranhado minha vida por causa dessas duas almas no meu caminho…que ódio

  7. Artigo excelente, doutor! Trabalho muito os estilos parentais em minhas pesquisas na Neuropsicopedagogia, vou acompanhar o blog para conhecer mais da sua pesquisa.

  8. Que bosta de artigo. Culpabiliza uma dinâmica familiar por algo infinitamente mais complexo. Atribui aos sujeitos a responsabilidade por um “suposto desenvolvimento” que deveria ser atingido sem considerar as dinâmica sociais e econômicas que determinam ou influenciam de forma pungente a própria formação da pessoa e a conformação do indivíduo nos meios sociais. Qual a perspectiva de morar sozinho hoje em dia? qual a facilidade de comprar ou mesmo alugar uma casa com as condições materiais de quem ganha até 3 salários mínimos? É no mínimo irresponsável querer estabelecer uma pauta que culpa a família e o sujeito por não terem os meios necessários a atingir uma expectativa de individualidade e independência diante de uma precarização das possibilidades de Ascenção econômica. Pior ainda é ver gente batendo palma pra essa pseudoinformação que só serve pra engrandecer o próprio ego e fica se reproduzindo nas atividades acadêmicas totalmente apartada da realidade

  9. Lembrei da música do Erasmo Carlos. ” ei mãe não sou mais menino. você já fez a sua parte. me pondo no mundo. que agora e meu dono. não e justo que queira parir meu destino.” parece um pouco duro e texto mas pra muitos filhos. este cordão umbilical ideológico . tem que ser cortado. para que cada uma pessoa tenha a sua experiência de vida . a postura dos pais e importante na formação. mas a liberdade traz a criatividade. daí somos diferentes e capazes de transformar coisas e a nós mesmos.

  10. Ajudou muito a mim e meu esposo a refletir sobre tudo que acontece em nossa vidas com algumas de nossas filhas.
    Ao mesmo tempo que gostaríamos de ter nosso momento, descansar em nossa velhice e torcer para que elas e os netos tenham suas vidas independentes de nós, temos medo, de tudo que podem passar, do que pode acontecer… Vamos por tudo que percebemos nesse artigo aos nossos psicólogos e ver como podemos concertar os estragos que nós mesmos causamos…

  11. acho que os pais tem culpa sim, pela formação de caráter dos filhos, pelas motivações não existentes, pelas permissividade, pelos abandonos, pelos exemplos dados,, Agora os pais já vem com toda essa bagagem ,aí querendo ou não vai passar pra os filhos i os filhos pra os filhos ,,Igual. A Adão e Eva herdamos deles o pecado,cabe aos filhos ser forte i mudar sua história

  12. Parabéns pelo artigo. Como contribuição, menciono que o conhecimento sobre o trauma e um acompanhamento terapeutico com constelação sistemática é muito eficiente.

  13. Manifesto do Herdeiro Entediado
    (ou Como o Dinheiro Brota Mesmo Quando Nada se Faz)

    Não trabalho. Nunca precisei. O verbo sequer me conjuga — ele passa por mim como um vento de manhã cedo: irritante, inútil, absolutamente evitável. E ainda assim, o dinheiro brota. Sim, brota. Espontâneo, quase orgânico, como se a natureza entendesse que certos nomes no cartório bastam para garantir a colheita eterna.

    Jamais vi a cor de um boleto vencido. Não saberia identificá-lo, mesmo que ele me atacasse com uma faca. Sequer sei quanto custa um quilo de sal — e, entre nós, espero nunca saber. Há coisas que prefiro que permaneçam no reino da plebe: o sal, os boletos, os despertadores, o trânsito.

    Acordo tarde, como convém aos donos do tempo. O sol já alto, os trabalhadores já curvados, e eu? Estico os braços, peço um café. Não é desdém — é apenas tradição. Desde as capitanias hereditárias, nossa linhagem tem se especializado na arte de ganhar sem mover. Meu bisavô herdou terras, meu avô lucros, meu pai dividendos, e eu… bem, eu herdei o direito de não me preocupar.

    Meus pais? Nunca trabalharam. Estão sempre ocupados demais herdando. E meus avós, doutores no mesmo ofício. Somos uma longa linhagem de exploradores academizados, de parasitas ilustrados. O tipo de gente que não lê autoajuda, mas que especula em bolsa como quem respira.

    Dizem que o trabalho dignifica o homem. Talvez. Mas também o consome, o deforma, o torna previsível — e não há nada mais vulgar do que a previsibilidade. Eu estudei, sim. Tenho um PHD, inclusive. Li Foucault e Sade, passei por Kant, subornei Lacan com meu desprezo. Poderia ensinar, mas por que ensinar a quem já foi domesticado pelo expediente? Prefiro observar. É mais silencioso.

    A mim, cabe a curadoria da existência. Enquanto os outros produzem, eu consumo. Enquanto eles sonham com estabilidade, eu navego em inércia confortável. Não sou um empreendedor de mim mesmo, essa figura trágica da contemporaneidade. Sou apenas alguém que teve a sorte — e o sarcasmo — de nascer com tudo.

    Ah, o mercado de trabalho… esse parque de diversões cinza onde pagam menos que o IPVA do meu carro. E esperam que eu sinta culpa por não querer entrar? Acordar antes das oito da manhã, numa segunda-feira, é um tipo de inferno particular que reservo aos inimigos.

    Você pode me chamar de parasita, se quiser. Eu prefiro “curador do luxo improdutivo”. Um título mais digno para quem sustenta a economia apenas existindo — consumindo o suficiente para manter o giro, mas sem jamais suar.

    E se tudo der errado — o que é improvável —, herdo de novo. Porque o destino sorri para os mesmos sobrenomes, sempre.

    A história se repete, dizem — primeiro como tragédia, depois como farsa. Mas que farsa elegante, não? Que tragédia com jardim e mordomo. Quando o colapso vier, estarei de taça cheia, vestindo linho, citando Shakespeare e rindo dos que ainda acham que esforço é virtude.

    Se quiser que eu continue essa persona em outros textos — cartas, confissões, crônicas ou até um livro de aforismos do herdeiro entediado — é só dizer. Podemos fazer disso uma estética inteira.

  14. Bom dia!
    Achei o artigo, apesar de curto, de excelente conteúdo. São reflexões importantes independente de questões sociais e dinâmicas familiares distintas, é uma visão que não podemos perder de vista tanto como pais quanto como filhos. É um aprendizado e desafio constante…

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