Muitas pessoas que começam um tratamento com medicação psicotrópica — como antidepressivos, ansiolíticos ou estabilizadores de humor — se deparam com dúvidas, receios e até mesmo sensações desagradáveis nos primeiros dias. É comum escutar relatos como: “Parece que piorei depois que comecei a tomar”, ou ainda: “Já tem três dias e não senti melhora nenhuma”.
Essas experiências são válidas e compreensíveis. Neste artigo, vamos explicar de forma clara e cuidadosa como esses medicamentos atuam no organismo, por que é necessário um período de adaptação e por que é tão importante seguir corretamente as orientações médicas. Tudo isso com o objetivo de ajudar você — ou alguém próximo — a viver esse processo com mais informação e menos sofrimento.
O que são psicotrópicos e para que servem?
Psicotrópicos são medicamentos que atuam diretamente no sistema nervoso central, ajudando a regular o funcionamento de neurotransmissores — substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Entre os neurotransmissores mais conhecidos estão a serotonina, dopamina, noradrenalina e o GABA.
Esses medicamentos são amplamente utilizados no tratamento de transtornos como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia e outros quadros que afetam a saúde mental. Ao agir sobre os circuitos cerebrais envolvidos nas emoções, humor e cognição, eles auxiliam na redução de sintomas e na promoção de bem-estar.
Por que os sintomas podem piorar no início do tratamento?
Uma das dificuldades mais comuns é lidar com o fato de que, nos primeiros dias ou semanas, os sintomas podem se intensificar. Isso acontece porque os medicamentos começam a interferir nos sistemas neuroquímicos do cérebro, mas os ajustes fisiológicos levam tempo.
Por exemplo, os antidepressivos do tipo inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como fluoxetina, sertralina ou escitalopram, aumentam a disponibilidade de serotonina nas sinapses — mas o cérebro precisa de dias ou até semanas para adaptar-se a essa nova realidade. Durante esse período, podem ocorrer efeitos colaterais como:
- Aumento da ansiedade
- Náuseas ou desconfortos gástricos
- Dores de cabeça
- Alterações no sono ou no apetite
Essas reações não significam que o medicamento está fazendo mal. Na verdade, são parte do processo de adaptação. É como se o cérebro estivesse reorganizando suas conexões.
O tempo de adaptação e a paciência necessária
Em geral, os efeitos terapêuticos começam a surgir após 2 a 4 semanas de uso contínuo. Isso porque o organismo precisa estabelecer um novo equilíbrio neuroquímico. A comparação mais próxima seria como iniciar uma fisioterapia: o fortalecimento vem aos poucos, e no início pode até haver um aumento do desconforto.
Por isso, não se deve interromper o uso por conta própria nos primeiros dias, mesmo que os efeitos pareçam negativos. Essa decisão sempre deve ser tomada em conjunto com o médico psiquiatra.
Como funciona o ciclo de manutenção dos psicotrópicos?
Uma vez que o organismo se ajusta, os psicotrópicos ajudam a manter o funcionamento cerebral em um padrão mais estável, reduzindo recaídas e prevenindo crises. O tempo de tratamento varia de pessoa para pessoa, mas em muitos casos o uso é mantido por pelo menos 6 a 12 meses, mesmo após a melhora dos sintomas iniciais.
Esse tempo de manutenção é crucial, pois interromper precocemente pode fazer com que o cérebro volte ao padrão anterior, ainda fragilizado.
Por que é importante tomar corretamente?
Tomar os medicamentos no horário certo, na dose prescrita e com regularidade é essencial para que o tratamento funcione. O uso irregular pode gerar flutuações no nível da substância ativa no organismo, diminuindo a eficácia e aumentando o risco de efeitos adversos ou recaídas.
Além disso, parar de tomar de forma abrupta pode causar sintomas de descontinuação, como tontura, irritabilidade, insônia e até crises de ansiedade. Por isso, toda mudança na medicação deve ser feita com orientação médica.
Humanizando o processo: você não está sozinho(a)
Tomar um psicotrópico não significa “fraqueza” nem que “você vai depender disso para sempre”. Significa apenas que, neste momento, o seu cérebro está precisando de apoio químico para funcionar melhor, assim como uma pessoa com diabetes precisa da insulina.
Além disso, o medicamento é uma parte do tratamento — mas não substitui o acompanhamento psicológico. A psicoterapia ajuda a desenvolver estratégias emocionais, cognitivas e comportamentais para lidar com as causas do sofrimento, promovendo mudanças duradouras.
Considerações finais
Se você ou alguém próximo está iniciando um tratamento com psicotrópicos, procure viver esse processo com paciência, cuidado e informação. É normal ter dúvidas e inseguranças. Converse com seu médico, com seu psicólogo, e permita-se confiar no caminho.
O mais importante é lembrar: melhorar é possível, e você não está sozinho(a).
Referências
- STAHL, Stephen M. Psicofarmacologia: depressão e transtornos bipolares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
- STAHL, Stephen M. Psicofarmacologia prática. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
- ZORTÉA, Cassiano. Psicofarmacologia para psicólogos. 1. ed. 2020. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/471208783/Psicofarmacologia-para-psicologos. Acesso em: 2 maio 2025.
- SOARES, Marcos Antônio de Oliveira (org.). Introdução à psicofarmacologia e noções de tratamento farmacológico. São Paulo: Editora Científica Digital, 2021. Disponível em: https://downloads.editoracientifica.com.br/books/978-65-87196-77-0.pdf. Acesso em: 2 maio 2025.
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Neurociências: consumo e dependência de substâncias psicoativas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Neuroscience_P.pdf. Acesso em: 2 maio 2025.
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