O Carnaval é um dos eventos mais emblemáticos da cultura brasileira. Marcado por festas, celebrações e uma atmosfera de intensa permissividade, também é um período em que muitas pessoas se entregam a excessos de diversos tipos: consumo exagerado de álcool e drogas, compulsões alimentares, hiperconectividade digital e busca incessante por prazeres momentâneos. Do ponto de vista psicológico, uma reflexão relevante é que “todo excesso esconde uma falta”. Mas o que está por trás desse comportamento?
A psicologia por trás dos excessos
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), entende-se que os comportamentos excessivos podem ser mecanismos disfuncionais de regulação emocional. Quando uma pessoa busca compulsivamente determinadas experiências, muitas vezes está tentando preencher um vácuo emocional, evitar sentimentos incômodos ou aliviar tensões internas.
O Carnaval, ao proporcionar uma atmosfera de permissividade e escape, pode servir como um espaço onde essas dinâmicas se intensificam. É comum que pessoas com dificuldades emocionais busquem na festa uma forma de anestesiar angústias, solidão ou frustrações pessoais.
Fatores emocionais e comportamentais
- Busca por validação social: Muitos excessos no Carnaval são movidos pelo desejo de aceitação e pertencimento. A necessidade de ser desejado(a) pode levar a comportamentos impulsivos e pouco refletidos, como exposições excessivas nas redes sociais ou envolvimentos afetivos sem discernimento.
- Fuga de emoções negativas: O consumo excessivo de álcool e drogas é frequentemente associado a tentativas de escapar de emoções dolorosas. Para alguns, o Carnaval é uma oportunidade de esquecer temporariamente problemas pessoais, traumas ou insatisfações com a própria vida.
- Sensação de liberdade e descontrole: O contexto festivo do Carnaval pode facilitar um comportamento dissociado da responsabilidade. Isso pode estar relacionado ao conceito de “desindividuação”, onde a identidade pessoal se dissolve no coletivo, levando a atos impulsivos e irresponsáveis.
- Rebelião contra repressão cotidiana: Para muitas pessoas, o Carnaval representa um espaço de rompimento com regras e pressões sociais. O excesso, nesse caso, pode ser uma resposta a um longo período de autocontrole e repressão, levando a um efeito de “compensação” exagerada.
Reflexões e estratégias terapêuticas
Compreender que os excessos escondem carências permite um olhar mais empático e aprofundado sobre esses comportamentos. Para lidar com tais questões, a psicoterapia pode auxiliar na identificação das verdadeiras necessidades emocionais do indivíduo, ajudando a desenvolver estratégias mais saudáveis de regulação emocional.
Algumas abordagens incluem:
- Atenção plena (Mindfulness) para aumentar a consciência dos impulsos e do aqui e agora.
- Treinamento de habilidades sociais para promover interações mais saudáveis e genuínas.
- Reestruturação cognitiva para modificar crenças disfuncionais sobre felicidade, prazer e reconhecimento social.
- Terapia do esquema para trabalhar padrões de carência afetiva e impulsividade.
Conclusão
O Carnaval é um momento de alegria e celebração, mas também pode ser um espelho de necessidades emocionais não atendidas. Quando os excessos se tornam padrões recorrentes, vale a pena questionar o que está sendo evitado ou buscado. O autoconhecimento e o suporte psicológico são fundamentais para garantir que as experiências prazerosas sejam saudáveis e não formas disfarçadas de sofrimento emocional.
Referências
- Beck, J. S. (2013). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Artmed.
- Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2008). Terapia do Esquema: Guia prático para profissionais. Artmed.
- Kabat-Zinn, J. (2015). Atenção Plena para iniciantes. Cultrix.
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